

Eu nem planejava parar. Tinha compras no banco de trás e meu celular estava na bateria de 5%. Mas eu o vi caído no meio-fio, com a cabeça levemente erguida, as costelas à mostra, uma orelha dobrada como se tivesse sido rasgada há muito tempo.
Ele não correu quando me aproximei. Apenas olhou para mim, como se já soubesse que eu não ia machucá-lo. Suas pernas tremiam quando ele tentou se levantar, e juro que, no momento em que me agachei, ele mancou direto para mim e desabou no meu colo como se nos conhecêssemos desde sempre.
Isso foi há duas semanas. Dei a ele o nome de Mello, embora sua energia esteja longe disso. Ele me segue de cômodo em cômodo, tenta pular no meu colo enquanto estou trabalhando, cozinhando, até mesmo uma vez quando eu estava escovando os dentes. Não importa que seu corpo ainda esteja se recuperando — ele precisa me tocar.
Levei-o ao veterinário na manhã seguinte. Sarna, infecção pulmonar, duas costelas quebradas e algo estranho no raio-X que não conseguiram identificar. Deram-me medicamentos e avisaram que ia ser caro. Não me importei. Simplesmente não podia deixá-lo.
Agora durmo no sofá porque é mais baixo, e ele reclama se eu estiver fora de alcance. Não dormi uma noite inteira desde que o trouxe para casa, mas nem me importo.
A parte estranha? Ontem, levei-o de volta para um check-up, e a veterinária perguntou se eu tinha colocado um microchip nele recentemente. Eu disse que não — ele era um vira-lata. Mas ela examinou novamente e franziu a testa.
Ela disse: “Este chip foi registrado há dois anos. E o nome listado… não é seu.”
Quando ouvi isso, meu cérebro começou a girar. Dois anos atrás? Se ele tinha sido microchipado naquela época, como foi parar na rua, quase morrendo de fome e sozinho? A veterinária me deu uma cópia impressa com os dados de contato do registro do microchip, e eu disse a ela que pensaria em entrar em contato. Parte de mim estava com medo. E se a família original estivesse procurando por ele? E se o tivessem abandonado? As perguntas eram infinitas.
No dia seguinte, enquanto Mello cochilava encostado na minha perna, peguei meu celular e disquei o número. Parecia que eu estava com uma centena de borboletas no estômago. E se alguém atendesse, exigindo seu cachorro de volta?
Uma mulher atendeu. Sua voz soava cansada, mas calma. Expliquei quem eu era e como havia encontrado um cachorro que correspondia a um chip registrado em seu nome. Ela ficou em silêncio por um longo momento, e eu realmente pensei que a ligação tivesse caído. Então ela disse baixinho: “Eu o perdi… há um ano.”
Ela se apresentou como Raya. Contou-me como sua família havia resgatado Mello — que na época se chamava Rusty — quando ele era apenas um filhote. Eles o amavam e cuidavam dele. Mas então o marido dela perdeu o emprego e eles tiveram que se mudar para a casa de parentes que não permitiam animais de estimação. Eles se esforçaram para encontrar um novo lar para Rusty, mas uma noite, ele escapou do quintal deles no meio de uma tempestade. Eles o procuraram por toda parte e nunca o encontraram.
Percebi a tristeza em sua voz. “Nunca perdemos a esperança de que ele ficasse bem”, disse Raya. “Que bom que você ligou… como ele está?”
Era difícil explicar o quão grave o estado de Mello ainda era. Eu não queria preocupá-la, mas também não conseguia mentir. Ela ficou em silêncio por alguns segundos antes de me dizer que não estava em condições de aceitá-lo de volta. “As coisas ficaram complicadas”, disse ela, triste, “e ainda não podemos ter animais de estimação aqui. Mas… obrigada por cuidar dele.”
Quando desliguei, senti uma estranha mistura de alívio e culpa. Por um lado, eu não precisava me despedir do Mello. Ele agora era meu, de verdade. Mas, por outro, me arrasava pensar em quanto amor ele devia ter tido um dia — como outra pessoa já havia lutado por ele também.
Na semana seguinte, vi uma nova faísca em Mello. Ele ainda lutava contra os ferimentos, e eu tinha que distribuir seus remédios cuidadosamente para mantê-lo confortável. Mas quando eu chamava seu novo nome — “Mello!” —, aquele rabinho começava a abanar tão rápido. Se eu me deitasse no chão, ele estava lá, deitando a cabeça no meu colo, olhando para cima como se eu fosse a única pessoa no mundo.
Certa tarde, decidi levá-lo para uma curta caminhada pela vizinhança. Ele nunca tinha saído para passear desde que o encontrei — estava muito fraco —, então imaginei que alguns quarteirões não fariam mal. Coloquei-o em um arnês macio para proteger suas costelas sensíveis. No início, ele cambaleou como um cervo recém-nascido. Mas, quando chegamos à esquina, ele estava cheirando cada caixa de correio, pilha de folhas e poste de luz.
De repente, uma criança pequena saiu correndo de trás de um carro estacionado, perseguindo uma bola de futebol colorida. Antes que eu pudesse impedir Mello, ele tentou correr para cumprimentá-lo. Meu coração disparou — será que ele ficaria bem? Será que isso assustaria a criança? Mas Mello apenas abanou o rabo e lambeu a mão do menino. O menino riu, acariciou Mello gentilmente e depois correu de volta para o seu quintal. Naquele momento, senti uma onda de orgulho. Nada poderia quebrar o espírito daquele cachorro.
Naquela noite, me enrolei no sofá ao lado do Mello. Ele roncava levemente, com a cabeça na minha barriga. Parecia tão em paz. Isso me fez lembrar das inúmeras vezes em que me senti sozinha no meu apartamento — as noites tranquilas em que a única luz era a tela do meu celular. Agora, eu tinha a respiração suave do Mello como minha canção de ninar, e de alguma forma isso mudou tudo.
Cerca de uma semana depois, recebi outra ligação da Raya. “Só queria saber como ele está”, disse ela. “Como está o Rusty… hã, o Mello?”
Ela parecia mais animada dessa vez. Eu conseguia imaginá-la sorrindo suavemente ao ouvir que Mello estava melhorando. Disse a ela que enviaria algumas fotos. Depois que desligamos, tirei algumas fotos de Mello esparramado no sofá, de barriga para cima, com a língua para o lado, em total relaxamento. Percebi o quanto ele havia mudado em apenas algumas semanas: seus pelos estavam começando a crescer novamente em alguns pontos e seus olhos pareciam mais brilhantes.
Quando enviei as fotos para Raya, ela respondeu quase imediatamente: “Meu Deus, ele parece tão feliz. Obrigada.” E depois de um momento, acrescentou: “Você o salvou.”
Mas a verdade é que ele também me salvou. Por um tempo, fiquei presa num padrão: ir trabalhar, voltar para casa, ficar rolando a tela do celular sem pensar, repetir. Até a ida ao supermercado no dia em que o encontrei tinha sido uma tarefa árdua, algo na lista de afazeres. Agora, eu tinha um motivo para acordar ao nascer do sol para caminhadas curtas, um motivo para estar presente, um motivo para rir. Todos os dias, Mello me lembrava que a vida é mais do que apenas seguir em frente.
Poucos dias depois, a mancha estranha no raio-X de Mello revelou ser uma cicatriz antiga de um projétil alojado perto do pulmão. Provavelmente de alguém que o tratou como um alvo de tiro, disse o veterinário. Meu estômago se revirou ao pensar nisso, mas em vez de sentir raiva, senti um novo propósito. Este cachorro havia sofrido mais do que eu jamais imaginara. E, no entanto, ele ainda era capaz de amor incondicional — ainda subia no meu colo sempre que podia, ainda confiava em mim para não machucá-lo.
As contas médicas continuaram se acumulando, mas eu consegui. Comecei a cortar várias pequenas despesas — minhas idas diárias ao café, compras aleatórias online — sem me ressentir nem por um segundo. Eu sabia que cada vez que eu decidisse abrir mão de um latte especial, esse dinheiro seria destinado à recuperação do Mello. E, de alguma forma, isso me fez sentir muito mais gratificante.
Certa manhã, abri a porta e encontrei um pequeno pacote. Dentro havia um bilhete escrito à mão: Obrigada por tudo o que você fez. Por dar uma segunda chance ao Mello (Rusty). Você não tem ideia do que isso significa para nós. Com carinho, Raya. Embaixo do bilhete, havia um pequeno brinquedo de pelúcia em forma de um sol sorridente. Mello ficou louco por ele, fazendo-o chiar como se fosse o maior tesouro do mundo.
Os dias se transformaram em semanas, e a força de Mello retornou. Percebi que ele estava se esgueirando menos para o sofá à noite, porque havia encontrado um lugar aconchegante no canto da minha cama. Suas costelas não estavam mais à mostra e sua sarna havia desaparecido quase completamente. Seu pelo estava macio e irregular, mas crescendo.
A maior surpresa veio quando Raya me mandou uma mensagem dizendo que ela e o marido tinham saído da casa dos parentes dela, encontrado um pequeno apartamento que permitia animais de estimação e queria saber se ela poderia visitar o Mello. “Não estamos pedindo para levá-lo embora”, acrescentou rapidamente. “Só… sentimos falta dele.”
Demorei um pouco para entender como me sentia. Uma parte de mim temia que Mello quisesse voltar para sua antiga família. Outra parte sentia que ele já era meu, completamente. Mas, pensando bem, percebi que a melhor coisa para Mello — e para mim — era deixá-lo se reunir com as pessoas que um dia se importaram com ele, mesmo que fosse apenas para uma visita.
Alguns sábados depois, Raya e seu marido, Niles, apareceram. Assim que entraram na minha sala, Mello correu até mim, abanando o rabo como a hélice de um helicóptero. Vi lágrimas nos olhos de ambos. Havia tanta alegria naquele momento. Mas algo surpreendente também aconteceu. Depois de Mello lhes dar uma enxurrada de beijos, ele olhou para mim e se apertou contra minha perna. A mensagem era clara: ele se lembrava deles, mas ainda assim me escolheu.
Passamos algumas horas conversando, rindo e observando o Mello alternar entre mastigar o brinquedo solar que fazia barulho e se jogar no meu colo. Ofereci-me para levá-lo para passar o fim de semana, mas eles balançaram a cabeça negativamente. “Ele pertence a vocês agora”, disse Raya, sorrindo com os olhos marejados. “Só queríamos ter certeza de que ele estava seguro e feliz.”
Quando eles saíram, percebi quanta cura havia acontecido naquele quarto — para Mello, para eles e para mim. Eu o ajudei a se recuperar, mas ele também me demonstrou um tipo de amor incondicional que eu nunca havia experimentado antes.
Nos meses seguintes, Mello cresceu e se tornou um cão saudável e vibrante. Sua claudicação tornou-se menos perceptível e suas cicatrizes — até mesmo as emocionais — pareciam desaparecer. Aonde quer que eu fosse, as pessoas sorriam para ele e comentavam como ele era amigável. Eu apenas sorria, lembrando de como ele costumava ser aquele vira-lata trêmulo perto da calçada, mal conseguindo manter a cabeça erguida.
Um dia, olhei para baixo e o vi esparramado no meu colo novamente. Seu pelo era espesso e brilhante, e seus olhos brilhavam. Ele olhou para cima, deu um grande suspiro de contentamento, e me ocorreu: quantos de nós somos como Mello em algum momento — castigados pela vida, mas desejando desesperadamente confiar novamente? Quantos de nós precisamos apenas de uma pessoa para parar, nos notar e se importar?
A maior lição que aprendi com Mello é esta: às vezes, dar um pouco de amor e gentileza pode transformar não apenas a vida de outra pessoa, mas a sua. Compaixão não é uma obrigação; é um presente que une pessoas (e cães) das maneiras mais inesperadas.
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