

Eu finalmente tive uma vida própria, mas minha filha me chamou de louca e me proibiu de ver minha neta.
Dediquei minha vida inteira à minha filha. Depois, para minha neta. Nunca reclamei, nunca pedi nada em troca. Mas parece que ambos se esqueceram de que ela não era apenas uma babá e empregada doméstica gratuita. Eu sou uma mulher. Com sentimentos, desejos e o direito de ser feliz.
Eu tinha vinte e um anos quando me casei. Meu marido, Rafael, era um homem quieto, calmo e trabalhador. Vivíamos humildemente, mas em paz. Quando minha filha tinha dois anos, ele fez uma viagem de trabalho — em seu caminhão, para entregar mercadorias. Ele voltou? Não. Ele morreu. Eles nunca me disseram como. Fiquei sozinha, com minha pequena Lucía em meus braços.
Os pais do Rafael não estavam mais lá, os meus moravam em outra cidade. Eu não tinha ninguém para pedir ajuda. Minha única salvação foi o apartamento que herdei dele. Tentei trabalhar em casa — dei aulas particulares porque estudei para ser professora. Mas acredite em mim, ensinar enquanto uma criança inquieta corre pela casa não é fácil.
Então minha mãe levou Lúcia com ela. Por quase dois anos ele morou com os avós enquanto eu trabalhava como uma mula, na escola e dando aulas à tarde. Todo fim de semana eu viajava para vê-la. Toda vez que eu ia embora, isso partia meu coração.
Quando Lúcia entrou no jardim de infância, eu rezava para que ela não ficasse doente, porque eu não podia faltar ao trabalho. Por sorte, ela era uma garota forte. Depois veio a escola. Depois, universidade. Eu carreguei tudo sozinha. Trabalhando dia e noite para comprar roupas, sapatos, comida e atividades para ele.
Quando ele se formou e conseguiu um emprego, eu finalmente senti: tinha acabado. Eu estava livre. Mas livre significava sozinho. Meus pais morreram, eu não tinha amigos e estava sempre ocupado. Até o gato se tornou meu único confidente.
E então nasceu Martita. Fui morar com minha filha alguns meses antes de ela dar à luz. Ajudei-a com as compras, a limpeza, a cozinhar e fizemos a mala dela para o hospital juntas. Depois disso, cuidei integralmente do bebê e Lucia logo voltou a trabalhar.
Mas eu não reclamei. Pelo contrário, eu floresci. Eu me senti útil novamente. Quando Martita começou a escola, eu a buscava depois da aula. Comemos juntos, fizemos o dever de casa, caminhamos no parque. Em uma dessas caminhadas conheci Javier.
Ele também era avô e cuidava da neta. A história dele era parecida com a minha: um jovem viúvo ajudando a filha. Começamos a conversar. E as conversas se arrastavam. Até que um dia ele me convidou para nos vermos… sem as meninas. Vamos tomar um café.
A verdade? Fiquei sem palavras. A última vez que alguém me convidou para sair foi há trinta anos. Mas eu disse sim. E assim a alegria retornou à minha vida. Íamos ao cinema, a exposições, simplesmente andávamos por aí. Eu me senti mulher novamente.
Mas minha filha não entendeu. Uma manhã, Lúcia me ligou:
—Pablo e eu queremos ir para a casa de alguns amigos. Você pode ficar com a Martita neste fim de semana?
—Desculpe, querida, mas vou viajar por dois dias. Você deveria ter me avisado antes.
—De novo com isso… Javier? —ela bufou.
Eu congelei:
—Lucia, que tom é esse? Você sabe muito bem que estou sempre lá para Martita. Mas eu não sou uma babá eterna.
—Você se esqueceu da sua neta! Há pouco você disse que não queria uma vida própria e agora está saindo para uma farra!
“Sim, vou sair para festejar”, respondi calmamente. Porque eu estou vivendo. Porque estou feliz. E eu pensei que você ficaria feliz por mim.
-Alegrar? Você trocou sua neta por um homem qualquer! Você deveria se concentrar, mãe, você é louca! Você não verá Martita até recobrar a razão!
Fiquei ali sentado, sem acreditar que era minha filha falando. Eu dei a ele toda a minha vida. Deixei tudo por ele. Eu a criei sozinha. Eu cuidei dela. Eu a apoiei. Ajudei-a com a filha. E agora eu era uma “avó louca” com “passarinhos na cabeça” por ousar ser feliz?
Chorei a noite toda. Eu não disse nada ao Javier. Ele apenas me abraçou e sussurrou:
—Você tem o direito de viver. Amar. E ser amado.
Mas algo se fechou dentro de mim. Não consigo imaginar minha vida sem Lucía. Sem Martita. Tenho medo de perdê-los para sempre. Espero que minha filha se acalme e me ligue. Deixe-o entender: sua mãe nunca deixou de ser avó. Só que, pela primeira vez em anos, ela também é uma mulher com sua própria felicidade.
Eu não mereço isso?
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